Primeiramente nós da CNA-Rio gostaríamos de esclarecer que não apoiamos ou nos solidarizamos com aqueles que colaboram com a polícia de nenhuma forma; somos anarquistas, lutamos pela destruição das prisões e da polícia e não podemos aceitar o colaboracionismo com as forças do Estado. Porém esse caso é repleto de pontos ainda não esclarecidos, muitos afirmam que toda colaboração é fruto da mente canalha do advogado/miliciano Jonas Tadeu que já se retirou do caso, porém a polícia segue sua inquisição em segredo de justiça, o que nos impossibilita averiguar o grau de colaboração do Fábio e do Caio. Levantamos essa ressalva até que todos os fatos sejam conhecidos e esclarecidos por uma questão de coerência política, porém não acreditamos que nenhum ser vivo mereça o cárcere.
No dia 06 de fevereiro de 2014, o cinegrafista da Band Santiago Ilídio Andrade foi atingido por um rojão enquanto cobria uma manifestação no centro do Rio de Janeiro contra o aumento das passagens de ônibus. Santiago faleceu por conta do afundamento craniano causado pela falta de EPI (equipamento de proteção individual) que deveria ter sido fornecido pela Band ao seu funcionário que cobria uma zona de conflito.
Desde junho de 2013, foram ao menos 118 agressões a jornalistas em todo o Brasil, a maioria delas cometidas pela polícia. O número de manifestantes atingidos gravemente por balas de borracha e estilhaços de bombas “de efeito moral” é incontável e expressa a força estatal da repressão militarizada. Essa violência institucional que vem sendo acionada para coibir as manifestações também produziu vítimas fatais: contabilizam-se ao menos 18 mortes em todo o Brasil, incluídas neste número as execuções de 9 moradores da Maré durante uma operação da PMERJ, com apoio da Força Nacional de Segurança, no dia 24 de junho, a partir da justificativa de “buscar suspeitos” de terem realizado um arrastão durante uma manifestação em Bonsucesso. No mesmo dia que Santiago morreu um senhor idoso foi morto, atropelado por um ônibus quando fugiu desorientado das bombas da PMERJ.
Nenhuma dessas outras mortes teve espaço na mídia, justamente por terem sido perpetradas pela polícia, ou a polícia mata pobre todo dia isso não é notícia, ou há um conluio da mídia corporativista burguesa de defesa do fascismo social. A primeira morte causada supostamente por manifestantes gerou um circo midiático como a muito não se via nesse país. As imagens foram repetidas a exaustão, a mídia exigia um bode expiatório.
O jovem Fábio Raposo se entregou à polícia, após suas tatuagens serem mostradas nos vídeos do protesto, e segundo ele após receber diversas ligações sofrendo ameaças. Um advogado miliciano apareceu, ninguém sabe de onde para “defendê-lo”, o advogado inventa um enredo fictício dos mais esdrúxulos acerca de financiamento das manifestações com o intuito de criminalizar o movimento como um todo. Segundo esse advogado Fábio entregou Caio que já estava em fuga para o Nordeste, o advogado miliciano vai junto com a polícia e uma equipe da rede Globo realizar a prisão do jovem Caio, o advogado do denunciante se torna também advogado do denunciado, uma aberração jurídica impar. Esses são apenas alguns excertos do cenário surrealista em que se deram os fatos relativos a prisão desses dois jovens.
Ambos continuam detidos e a justiça reiteradamente vem negando seu direito de liberdade para saciar a sede de sangue da mídia conservadora. Não acreditamos que o sistema judiciário se aproxime da justiça em nenhum momento, só há justiça com o fim das classes sociais, o judiciário defende o Estado e a burguesia. Exigimos ainda assim a imediata liberdade dos jovens, e a abertura dos inquéritos policiais em andamento para que saibamos até onde vai a perseguição política aos que lutam do Estado “democrático” de direita.