Trazemos a público a presente troca de e-mail entre nosso grupo e um outro grupo que se reinvidica CNA no Rio de Janeiro. Nosso objetivo ao expor essas mensagens é para possibilitar que os companheirxs tenham acesso a todo debate e possam tirar suas próprias conclusões acerca dos desentendimentos que vem acontecendo.
Nossas mensagens estão em preto, e as mensagens do outro grupo estão em azul.
Nosso contato para maiores esclarecimentos é:
PGP: 4B1A70B6BC21E938
ou nos mande uma mensagem diretamente pela página de contatos
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Olá,
O pessoal da CNA de Porto Alegre nos encaminhou o e-mail de vocês, pois somos dois coletivos na mesma cidade com proposta similar. Queriamos saber se vocês tem algum site ou outra fonte de informação para que pudéssemos ter mais algum conhecimento mútuo.
nosso site é ( cnario.noblogs.org ), foi criado a pouco tempo e ainda
está sendo construído, estamos já desde o ano passado organizando
eventos para arrecadação de fundos
Se possível gostaríamos que nos encaminhassem o comunicado de vocês questionando a turnê na Europa
esperamos que possamos manter o contato.
saúde
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não recebemos resposta a esse primeiro e-mail, porém recebemos por outras listas o seguinte comunicado:
COMUNICADO URGENTE!
A Cruz Negra Anarquista no Rio de Janeiro (CNA-RJ) se constituiu a partir das grandes manifestações de ruas ocorridas na cidade do Rio de Janeiro. Nossa prática está de acordo com os princípios da Internacional das Federações Anarquistas e da Federação Anarquista Cruz Negra.
Portanto, nossas ações se pautam na luta contras as perseguições e prisões políticas, denunciando as injustiças, a privação de liberdades e processos de criminalização de ativistas e anarquistas.
Nosso coletivo está organizado em:
Uma rede de defesa com advogados para prestar informações e orientações jurídicas para indivíduos e grupos anarquistas;
Um grupo para acompanhar, prestar auxílio e organizar campanhas em prol da liberdade de ativistas e anarquistas perseguidos.
Importante ressaltar que a CNA-RJ até o momento não recebeu nenhum pedido de apoio e solidariedade acerca de perseguidos, processados, presos e condenados no Rio de Janeiro.
Nesse momento umas de nossas principais ações está voltada para a libertação de Rafael Braga Vieira. Negro, trabalhador precarizado, morador de rua, que foi julgado e condenado injustamente nas jornadas de junho de 2013.
Denunciamos:
Há alguns dias tomamos conhecimento que indivíduos estão se passando como membros da CNA-RJ no exterior e realizando eventos para coletar fundos que seriam utilizados para a defesa de ativistas e anarquistas que venham a sofrer perseguições e prisões no período da Copa do Mundo da Fifa no Brasil, em especial no Rio de Janeiro.
Esse fato é alarmante!
Denunciamos que a CNA-RJ não recebeu nenhuma comunicação ou consulta para utilizar seu nome em campanhas para arrecadar fundos no exterior, em especial na Europa.
Denunciamos que a CNA-RJ não delegou nenhuma representação a nenhum indivíduo(s) para organizarem eventos com a finalidade de arrecadação de fundos em seu nome em países europeus ou em qualquer outro lugar.
Afirmamos que nossos objetivos no Rio de Janeiro são claros e apenas necessitamos de uma rede internacional de solidariedade e apoio mútuo em nossa luta.
Desta forma, queremos alertar e denunciar o uso indevido do nome da Cruz Negra Anarquista do Rio de Janeiro.
Cruz Negra Anarquista no Rio de Janeiro (CNA-RJ)
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Olá mais uma vez, infelizmente recebemos por listas de coletivos que
militamos a carta denúncia de vocês. Entendemos que houve uma confusão e que ambos os coletivos iniciaram atividades como CNA-RJ em 2013, não fazemos idéia de qual iniciativa teve lugar primeiro e não temos certeza se importa disputar tal fato, apenas colocamos que se houve esta confusão não foi por má fé, mas por completo desconhecimento do coletivo de vocês. É completamente cabível que vocês também não nos conheçam, pois passamos muito tempo nos focando nas primeiras ações, mais do que cuidar da parte de divulgação. Assim, em outubro de 2013 realizamos o I festival de tatuagem em apoio aos presos (tattoocircusrio.noblogs.org), uma iniciativa irmã da Solidariedade à Flor da Pele no sul e que depois também inspirou o Tattoo Circus SP, e logo depois, no final de 2013, iniciamos uma info-tour na europa sobre a situação no Brasil, esta que pelo visto já tiveram acesso. Fica claro que é preciso resolver este impasse, a nós parece que quanto mais iniciativas de solidariedade melhor, mas temos dúvidas se o coletivo de vocês pretende ter este companheirismo conosco, pois ficamos perplexos e ofendidos com a carta completamente difamatória que publicaram. Viemos procurar vocês assim que chegou ao nosso conhecimento este fato e buscamos resolver este impasse para que todxs possam continuar seu trabalho sem mais percalços. Para tanto, exigimos a imediata retirada desta carta caluniosa do ar, pois além de ser um desrespeito conosco, é com as pessoas que construiram e contribuiram para a tour, que neste momento se sentem enganadas e quiçá até roubadas. Entendemos que vocês desejam desvincular a iniciativa de CNA de voces da nossa infotour, mas isto pode ser feito de forma mais respeitosa e menos difamatória, como nos parece que deve ser entre anarquistas. Nos mantemos abertos ao diálogo e aguardamos poder resolver a situação o quanto antes.
Saúde e anarquia
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Rio de Janeiro, 16 de junho de 2014
Companheir@s da CNARio,
Em resposta a vosso e-mail de 11/06/2014 esclarecemos,
que a Cruz Negra Anarquista no Rio Janeiro, CNA-RJ, encontra-se em
atividade desde o início do segundo semestre de 2013 na construção de uma rede de ativistas e de advogados para autodefesa de anarquistas e ativistas de movimentos sociais e populares. Esta rede abrange ativistas locados em cinco Estados brasileiros;
que a construção da CNA-RJ segue estritamente os procedimentos e práticas definidas pela Anarchist Black Cross Federation, ABC, ou pela Federación de Grupos de la Cruz Negra Anarquista, CNA: unidade de propósitos (somente oferecer suporte a presos políticos conforme a definição dada pela constituição da CNA/ABC); unidade tática (todos os procedimentos locais sendo realizados dentro da legalidade local); ação coletiva e disciplina de conduta (em acordo com os quatro princípios básicos de fundação da CNA/ABC); federalismo combinado com democracia interna (decisões locais de acordo com os procedimentos coletivos internacionais);
que em relação às formas de solidariedade e suporte financeiro, seguimos os procedimentos indicados pela ABC/CNA;
que em relação à forma de apresentação, a CNA-RJ deu ampla publicidade a suas atividades de forma verbal, impressa e virtual, dentro e fora do Brasil, materializadas desde fevereiro de 2014 na página www.facebook.com/pages/Cruz-Negra-Anarquista/259080420921307;
que em nenhum momento a CNA-RJ autorizou o uso de sua página no facebook para a captação de recursos em seu benefício através do evento (Lisboa) Benefit Nãovaitercopa, realizado em 07/03/2014 e divulgado na página do Coletivo Libertário Évora de Portugal;
que a turnê internacional realizada a partir de 24/04/2014, divulgada pelo e-mail cruznegraanarquistarj@riseup.net, contra a realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil e para a captação de recursos para a mobilização de protestos no Brasil, não se encontra de acordo com os princípios seguidos pela CNA-RJ, defendidos e difundidos pela ABC/CNA, (entre eles, a captação de fundos para participação em movimentos de protestos ou de guerra de classe, bem como para qualquer atuação fora da legalidade local) e por isso a denunciamos como não sendo uma prática valida para esta organização;
que em função desses princípios seguidos, reiteramos a manutenção da carta de esclarecimento divulgada pela CNA-RJ, para evitar a indevida utilização de seu nome e sua página no facebook, e sugerimos @os companheir@s desvincular o uso das atividades de campanha contra a Copa e de captação de recursos para financiar protestos, daquelas de autodefesa de ativistas realizadas em nome de qualquer Cruz Negra (cujas formas de ação não podem ser confundidas com as de participação ou de apoio direto a qualquer movimento de protesto político e social).
Esperamos com isso ter esclarecido os motivos que nos levaram a tal
atitude e gostaríamos que @s companheir@s repensassem a prática realizada de autodefesa de ativistas para evitar o descrédito do movimento anarquista no Brasil junto ao movimento anarquista internacional, como já ocorreu em mais de uma situação no passado.
Cruz Negra Anarquista no Rio de Janeiro CNA-RJ
Saudações.
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Lamentemamos profundamente ter que escrever esta carta, mas a postura difamatória de vocês e a falta de companheirismo, infelizmente nos leva a isso. Gostaríamos de esclarecer alguns pontos antes de cortarmos toda forma de contato com o grupo de vocês por motivos de segurança e coerência política.
Primeiramente organizamos sim uma turnê informativa por 7 países na Europa. O objetivo da turnê era explicar para as movidas anarquistas locais as lutas que se desenrolam em nossa cidade desde 2013 e o que esperávamos para a Copa do Mundo. Durante essa info tour aproveitamos para iniciar uma campanha para arrecadação para o fundo de apoio axs presxs políticos, portanto o dinheiro arrecadado é de uso exclusivo da luta anticarcerária daqueles que participam em movimentos de protestos ou de guerra de classe, bem como para qualquer atuação fora da legalidade local que vise a destruição do Estado e do Capital. Bastava que vocês soubessem ler para que esse mal entendido fosse resolvido: https://e.sarava.org/CNA-Rio “O objetivo não é só divulgar o que está acontecendo no Brasil por conta da Copa do Mundo, mas também arrecadar dinheiro pra apoiar o movimento contra a Copa. Esse dinheiro sera enviado à Cruz Negra Anarquista do Rio de Janeiro, e será usado para apoiar financeiramente as pessoas que forem detidas ou presas por conta dos protestos contra a Copa”.
Os recursos não são para a mobilização dos protestos, mas para xs manifestantes presxs. Esse tipo de acusação, num momento de repressão política e perseguiçãoaos grupos militantes, é extremamente perigosa e policialesca; se assemelhando às calúnias de financiamento à revolta popular feitas pelo advogado miliciano, o jornal O Globo, a revista Veja e o P2TU.
O lançamento de uma carta pública internacional sem buscar esclarecimentos prévios com um grupo local representa um ato de x9, demonstra falta de maturidade política e está em total desacordo com os princípios éticos defendidos pelxs anarquistxs revolucionárixs ao longo da história.
A Cruz Negra Anarquista não foi inventada e não é exclusividade da ABCF, federação americana, que na nossa visão representa aquilo que Woodcock define como uma “pálida imagem do movimento anarquista histórico, um fantasma que não inspira nem temor entre os governos nem esperança entre os povos, ou nem mesmo interesse entre os jornalistas.” A História da CNA começa na Revolução Russa em 1905 no auxílio axs lutadorxs fossem eles Narodnik, Zemlia y Volia, marinheiros de Kronstadt, anarco-sindicalistas de São Petesburgo, plataformistas ucranianos, regicidas ou mesmo adeptos de Netchaiev. A Cruz Negra se diferenciava na época da Cruz Vermelha por apoiar explicitamente presos da guerra social independente da natureza de suas ações. A CNA não respeitou a legalidade czarista, assim como não respeitou a legalidade bolchevique. Com a revolução ucraniana e o exercito insurgente ocupado com a guerra rural contra as tropas brancas e vermelhas, coube a CNA organizar as barricadas nas cidades e a defesa da fábricas coletivizadas contra os ataques reacionários, não conseguimos ler nesse histórico uma defesa da legalidade como a de vocês, que entendemos ser intransigente, canalha, e difamatória .
Entendemos assim como Malatesta a necessidade de compreender a revolução “não no sentido ‘científico’ da palavra, pelo qual frequentemente intitulam‐se revolucionários até mesmo os legalitários, mas no sentido ‘vulgar’ de conflito violento, no qual o povo se desembaraça, com a força, da força que o oprime, e realiza os seus desejos fora e contra toda legalidade” ou ainda como uma “mudança integral e durável, sim, porém, é preciso acrescentar, realizada através da violação da legalidade, o que quer dizer, por meio da insurreição”. Defender a legalidade é se afastar do anarquismo revolucionário, é se apegar a sombra pálida e burguesa de um ativismo de facebook completamente afastado das lutas sociais e da verdadeira movimentação anarquista (a experiência é critério de verdade, como nos ensinou Bakunin).
Nosso objetivo é a destruição das prisões e estamos dispostxs a empregar todos os meios necessários como dizia Malcolm X, o abolicionismo penal, a criminologia crítica e toda teoria anarquista revolucionária são ferramentas conceituais para a nossa luta anti-carcerária entendida como parte indissociável da luta contra o Estado e o Capital. Enquanto houver prisões haverá Estado, toda luta anti-estatista é uma luta anti-carcerária, restringir a atuação da CNA axs presxs políticos apenas é uma atitude covarde e anti-revolucionária.
Gostaríamos de frisar que cabe a CNA agregar e apoiar companheirxs de diversas correntes do anarquismo revolucionário, sejam elxs plataformistas, especifistas, bakuninistas, insurrecionalistas, de massas, organizacionistas, anti-organizacionistas, sintetistas ou qualquer outra designação que o valha. Por termos esse entendimento e conhecimento do movimento anarquista por décadas de luta real na cidade e não por contatos virtuais, entendemos dois pontos que gostaríamos de esclarecer: 1º, como já explicamos acima a ABCF não é a Internacional da Cruz Negra, mas a federação norte-americana, não existe um órgão internacional que coordene todas as células da CNA e em muitos países não existe nem mesmo uma coordeação nacional; 2º entendemos a IFA como uma organização sintetista, e não como supra-sumo do anarquismo mundial, alguns de nós inclusive participaram do 9º Congresso da IFA, tendo debatido o movimento anarquista latino-americano em conjunto com o secretariado dessa federação. Somos anarquistas que estamos nos sindicatos, nas ocupações, nas barricadas, nas favelas, na luta real há muito tempo; não somos uma farsa virtual.
Chamar o facebook de materialização de uma “ampla publicidade a suas atividades de forma verbal, impressa e virtual, dentro e fora do Brasil”, é ou alienação ou falta de caráter. O facebook é uma corporação capitalista que atua conjuntamente as mais diversas forças de repressão e “inteligência” de diversos Estados nacionais, visando rastrear pessoas e redes de contato; o facebook é uma falha de segurança para o movimento anarquista e não um canal válido de propaganda e atuação.
Não entendemos como anarquistas podem se degladiar por direitos autorais, ou por primazia temporal de um movimento. Nós sabemos quando nossa luta começou, não precisamos provar nada a ninguém, o nome CNA não segue constituições legalistas, puritanas e proibicionistas (basta ler com atenção a constituição da ABCF) que não fazem referência ao caráter revolucionário do anarquismo. Somos CNA, vocês podem usar o nome que quiserem não cabe a nós questionar ou debater isso. Essas pequenas brigas consomem nosso tempo e nos afastam da luta real, por isso esse é nosso último contato direto.
Em nossas ações priorizamos a atuação no mundo real, seja pelas intervenções urbanas com colagens, muralismos e pixações contra as prisões; seja com panfletos práticos com dicas aos lutadores sociais sobre como se portar em caso de serem sequestradxs pelo Estado; seja organizando eventos de arrecadação de verbas e debates anti-carcerários (convenção internacional de tatuadores anarquistas e jantares beneficentes) e usando nosso fundo de apoio axs presxs politicxs para pagar o resgate de companheirxs sequestrados pelo Estado como no caso prático do desalojo da Aldeia Maracanã. Entendemos que é esse o papel da CNA e não manter uma página do facebook, ou fazer intervenções ridículas, egóicas e canalhas em reuniões sérias com objetivos práticos, que servem apenas para difamar o movimento face aos coletivos em luta da cidade.
Nossos contatos internacionais não se dão apenas por meio da internet, de forma artificial, mas são calcados em uma ampla rede de apoio mútuo anarquista que se espalha por toda América Latina e pela Europa. Inúmeras células da CNA não tem o menor interesse na ABCF e a décadas vem atuando no mundo todo, alguns de nossxs membrxs já fizeram parte da CNA de Porto Alegre, de Buenos Aires, da França e mantemos contatos militantes reais com células em Belarus, República Tcheca, Polônia, Rússia, Alemanha, Bélgica, Portugal, Espanha, Suíça, Colômbia, Uruguai, Bolívia, Chile.
Em resumo, sua prepotência e falta de ética militante enquanto anarquistas apenas os transforma em uma falha de segurança prejudicial ao anarquismo.
Sem mais,
seguimos nosso caminho independente de vocês.
Coletivo Anti-carcerário Cruz Negra Anarquista – Rio de Janeiro.