[Venezuela] marcada a audiência de extradição de Bernhard Heidbreder

O Estado venezuelano marcou a audiência de extradição do revolucionário Bernhard Heidbreder para o 16 de dezembro de 2014 às 2pm na Sala Penal do TSJ. No mesmo dia teremos aqui no Rio a primeira audiência dxs presxs na copa.

Nossa solidariedade não tem fronteiras!

Destruam os muros das prisões!

Reproduzimos abaixo uma carta de Bernhard explicando seu caso


venezuela-um-mundo-melhor-declar-1Meu nome é Bernhard Heidbreder, quem por estado de necessidade teve que assumir a identidade de John Londoño S., que foi como me conheceram o entorno de minha comunidade e o trabalho. Desde 11 de julho de 2014 fui detido, já que desde abril de 1995 a justiça alemã me busca por minha presunta vinculação com um grupo denominado K.O.M.I.T.E.E. e mal chamado terrorista (porque de fato não feriram ou mataram a ninguém), conhecido por realizar duas ações: queimar uma pequena sede do exército e a tentativa de explodir um cárcere vazio, que não se levou a cabo.

Agora se perguntarão “por que um cárcere?” Bom, porque não ia ser um cárcere qualquer, mas um muito especial, um cárcere que significava um novo passo adiante na repressão dos governos alemães contra os imigrantes sem visto na Alemanha, dirigida a encarcerá-los violando assim seus direitos humanos fundamentais. Imagine-se que você está como turista na Alemanha, lhe oferecem um trabalho, como garçom para dar um exemplo, e decide ficar ainda que não tenha visto de trabalho, permissão legal que você bem sabe que o consulado alemão jamais lhe daria; você trabalha durante um tempo no restaurante quando chega uma requisição do governo alemão e o levam ao mencionado cárcere modelo, que se constrói exclusivamente para gente como você, os imigrantes que se encontram sem permissão na Alemanha. Ali ficaria você cerca de meio ano esperando a expulsão e quando chega o dia não o deportam, mas o levam a um país vizinho onde o abandonam a sua sorte.

Qualquer um sabe que os países de “primeiro mundo” têm uma dívida incalculável com os países da América Latina e outros continentes (que para eles são do “terceiro mundo”); baseado no roubo dos recursos naturais deste continente criaram os países europeus sua atual riqueza. Uma maneira de pagar, ainda que seja um pouco, a dívida histórica seria permitir que qualquer um possa ingressar à União Europeia em busca de sua sorte laboral; mas longe de fazer isto, se constrói um cárcere para os estrangeiros que se encontram na Alemanha. Não há direito!

Em respeito a mim, tenho que dizer que em toda minha vida não matei nenhuma pessoa; em compensação, a política migratória da União Europeia é cúmplice da morte de muitos que em seus países de origem não encontram condições de vida, onde em vez de trabalho encontram fome, miséria e, às vezes, perseguição política e tortura.

Eu sim pertenci à esquerda radical alemã: milhares de pessoas (eu entre elas), nos organizamos em uma corrente que se chamava “Os Autônomos” e que desenvolveu uma luta política, altruísta e solidária com os imigrantes indocumentados, contra a violação a seus direitos humanos fundamentais, enquadrado nas ações da esquerda alemã indignados contra muitos abusos.

Hoje por hoje, sigo sendo fiel a meus ideais, e as bandeiras de minha luta são o antifascismo, o anti-imperialismo, o antimachismo, o anticapitalismo e tenho as melhores intenções de ser um bom esposo, um vizinho solidário, um operário lutador e revolucionário, partícipe na criação de um justo sistema eco-socialista, mas considero que não se necessita destas características políticas ou pessoais senão somente um pouco de sangue solidário correndo pelas veias, para ver que aquela política migratória é um atentado contra o mais elementar sentido do humano.

Neste caso tento colocar ênfase em esclarecer as circunstâncias e as razões políticas com espírito altruísta que acompanharam o acionar da esquerda revolucionária, incluído aquele grupito ao que supostamente integrava há quase 20 anos e escrevo este comentário porque tentarei evitar a extradição (sobram os argumentos jurídicos pelos quais, sob um juízo apegado à constituição e à lei, onde esteja garantido o devido processo e o direito à defesa, não deveria ser extraditado) e poder seguir com minha vida junto a minha esposa e minha comunidade em Mérida.

Busco a solidariedade de todas e todos aqueles que se identifiquem com minha causa e peço à esquerda venezuelana em particular que me tenha em conta como o que sou: um que dá a diário seu grãozinho de areia na luta por um mundo melhor.

Bernhard Heidbreder

Sexta-feira, 10 de outubro de 2014