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“Aqui não existe natal” – Carta de Moa Henry, anarquista vivendo em clandestinidade

Compartilhamos a carta escrita no natal de 2014 pela militante anarquista Moa Henry, uma das 23 acusadas de suspeita de vandalismo durante a Copa do Mundo. Moa está foragida desde que, após receber liberdade provisória, recebeu um mandato de prisão por estar presente em uma atividade cultural em uma praça pública.

LIBERDADE JÁ!

AQUI NÃO EXISTE NATAL

Enquanto o mundo festeja o “capitalismo fraternal natalino” com seus pinheiros (à moda americana) cheios de presentes, ao lado de mesas fartas, nós vivemos num mundo onde o que vemos e experimentamos é uma realidade não tão farta, e nem um pouco pacífica e fraternal.

Há dois dias, enquanto centenas de famílias burguesas brindavam o “amor” e a “fraternidade” cristãs, um jovem chamado Rafael Braga era torturado numa solitária num dos centros carcerários da “Cidade Maravilhosa”. Enquanto a elite fascista trocava seus presentes, Caio e Fábio – dois ativistas que foram as ruas em 2013 lutar por uma realidade melhor, por saúde, educação, moradia, transporte de qualidade e um custo de vida mais baixo, não só para eles mas para toda população, nada comemoravam e nada brindavam, simplesmente porque estavam numa cela em outra prisão da “cidade maravilhosa”.

Continuando a lista posso citar o ativista Igor Mendes, preso no último dia 03 de dezembro quando estava saindo de casa. Igor Mendes também foi às ruas denunciar o fascismo do Estado gerenciado pela máfia partidária (PT, PSDB, PMDB) oportunistas, seus aparatos de repressão, a violência policial usada contra os movimentos populares e nas áreas mais carentes da cidade, etc. Ele também passou a noite do dia 25 num complexo penitenciário.

Acusadas, assim como Igor Mendes de termos cometido um ato de desobediência civil, a ativista Elisa Quadros e eu tivemos novos mandados de prisão expedidos. Diferente de Igor Mendes nós tivemos a oportunidade de fugir. Nós duas continuamos vivendo na clandestinidade desde o dia 03 de dezembro.

Estou contando tudo isso não por ter a intenção de colocar a mim e todos os outros como vítimas, ou como se lamentássemos por não poder trocar presentes, ou comemorar em casa com a família o “amor”, “fraternidade”, “paz” e a “fartura”. Quero deixar claro aqui que nós não comemoramos, por exemplo a “paz” e a “fartura” porque simplesmente não houve “paz” e “fartura” para ser comemorada. Para nós – assim como para centenas de milhares de presos, moradores de rua, para todos que foram violentamente removidos, caçados e assassinados no campo, nas comunidade indígenas e nas favelas, para aqueles que são explorados diariamente dentro e fora da cidade, para todos nós não houve natal assim como não houve Copa, assim como não haverá Olimpíada.

As nossas mesas não foram fartas e em muitos casos não havia nem mesmo uma mesa (como nos presídios e nas calçadas, onde muitos sobrevivem).

Em alguns lugares um pouco mais distantes, como em inóspitas comunidades africanas e etíopes mesmo a água e o pão foram artigos de luxo nesta noite de fartura.

Em diversos lugares do mundo, nos subúrbios e favelas, famílias inteiras se reuniram sem ter o que colocar sobre a mesa, e sem ter o que comemorar.

E assim passamos aquilo que a burguesia, os capitalistas e os cristãos chamam de natal. Alguns presos, outros com fome, outros tantos vivendo na clandestinidade. Ainda houveram muitos que, nessa noite, estiveram relembrando a morte ou desaparecimento de suas Cláudias, Amarildos, dos seus companheiros de militância. Por tudo isso eu afirmo com convicção que nessa realidade de luta e resistência não existe natal!

EM SOLIDARIEDADE AOS 43 ESTUDANTES MEXICANOS!

PELA LIBERDADE DE FÁBIO, CAIO, IGOR MENDES E RAFAEL!

PELA LIBERDADE DE TODOS OS PRESOS POLÍTICOS!

PELA EXTINÇÃO DE TODOS OS PROCESSOS!

PELO FIM DO GENOCÍDIO NO CAMPO, NA FAVELA E NAS COMUNIDADES INDÍGENAS!

MORTE AO FASCISMO E AO CAPITAL!

NÃO PASSARÃO!!!

Moa Henry – 26/12/14

Carta do preso político Igor Mendes diretamente da prisão

Difundimos abaixo a carta do preso político Igor Mendes, um dos 23 acusados de suspeita de vandalismo durante a Copa do Mundo que, após liberdade provisória, foi encarcerado por fazer um discurso em praça pública.

LIBERDADE JÁ A TODXS XS PRESXS POLÍTICAS!

PELO FIM DAS PERSEGUIÇÕES.

Mensagem do preso político Igor Mendes diretamente da prisão

Via Cebraspo

“A todos meus queridos companheiros e companheiras,

Estava ansioso para enviar a todos vocês saudações militantes desde essa prisão que tem sido há 37 dias minha trincheira de combate. Não posso me alongar e também não é a oportunidade para relatar tudo que tenho visto e vivido aqui. Quero apenas ressaltar, desde já, que fui respeitado em minha condição de preso político por todos os presos com os quais convivi até hoje, eles se mostraram solidários com a nossa causa. A vida aqui é muito dura, não temos nada, a não ser uns aos outros.

Me sinto saudável, mas não tive ao longo de todos esses dias nenhum banho de sol e me tem sido sistematicamente negado o acesso a livros, papel e caneta. Recebi suas cartas e os informes da campanha pela nossa liberdade, que me encheu de ânimo e forças, pois tenho que corresponder à altura ao esforço que vocês fazem.

Fiquei muito feliz em saber que estão todos firmes e de cabeça erguida e na verdade não esperava outra coisa. É claro que não vejo a hora de recuperar minha liberdade para me dedicar ainda mais a nossa luta, mas, caso ocorra o pior não se abalem, pois a nossa convicção vale muito mais do que grades e algemas. Sairei daqui mais convencido de que o Brasil precisa de uma grande revolução, que derrube esse velho Estado burguês latifundiário que tanto oprime nosso povo.

Muito obrigado a todos.

Às companheiras Elisa e Karlaine um forte abraço, é uma vitória do movimento popular que essa prisão política e arbitrária não as tenha atingido, sigamos em frente, como diz a bela canção: ‘Nada a temer senão o correr da luta’.

Lutar não é crime
Agora e sempre fascistas não passarão.
Resistir até o final.

Igor Mendes da Silva
09 – 01 – 2015″

Appel international à la solidarité avec les prisonnier.es de la Coupe du monde 2014.

libLe 12 juillet 2014, à la veille de la finale de la Coupe du Monde, la police de Rio de Janeiro a arrêté 19 activistes, visant à désarticuler la grande manifestation prévue contre le match de la finale, sous la justification que toutes ces personnes auraient participé à des actes «violents» dans les révoltes de l’année dernière et qui envisageaient d’autres actions lors de la manifestation contre la finale de la Coupe du Monde. Au total, environ 23 mandats de perquisitions, arrestations et détentions temporaires ont été menés contre des personnes accusées d’avoir participé à des mouvements sociaux. Les mandats étaient de 5 jours de détention provisoire, 4 personnes ont réussi à échapper aux enlèvements de la police.

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[Mexico] Carta das compas Amelie Pelletier e Fallon Poisson + Atualização Prisões Mexicanas pt. 1

Carta de Amelie e Fallon

Publicada 20/11/14 em Contra-Info

Hoje faz mais de 10 meses que estamos em cana. Nas últimas semanas que se passaram, nos renderam duas sentenças: federal e comum. No primeiro de novembro o juiz Manuel Muñoz Bastida do  oitavo juizado federal do Reclusorio Sur nos ditou a sentença de 7½ anos de cadeia sob a acusação de “Incendio a edificio público com gente dentro”, isso pelos danos causados à “secretaría de comunicación y transporte do México”. As “pessoas de dentro” são os porcos federais a cargo da segurança do lugar. Logo, dia 7 de novembro, recebemos a segunda sentença pelas acusações de foro comum de “Danos a propiedade” e “ataque a paz pública”. Essas acusações se referem ao ataque feito a concessionária de carros Nissan. Encontrando-se a uma esquina da STC e aonde queimamos os carros. A juiza Margarita Bastida Negrete do tribunal de foro comum #18 do Reclusorio Oriente nos deu uma sentença de dois anos e sete meses de cadeia, juntando com os dois delitos em um, então os danos a propiedade se transformaram na reparação dos danos e ficamos com o delito de ataque a paz pública e a reparação dos danos que são de 108.000 pesos. Segundo a lei, todas as sentenças menores de 5 anos para os infratores sem antecedentes tem direito a alguns benefícios. No nosso caso, se pagamos a multa de 43.000 pesos nos dão a imediata libertade ou podemos sair sob fiança pagando 10.000 pesos cada umx e se apresentando todo mês a juízo durante 2 anos e 7 meses.

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Caso presxs da Copa: Notícias do julgamento da menor Andressa

O advogado Marino d’Icarahy fala sobre a audiênca (12/11) da estudante secundarista Andressa Feitoza, menor presa durante a operação Firewall no final da Copa do Mundo 2014 e em cuja casa foi encontrada uma arma com licença vencida de seu pai, tendo sido utilizada pela polícia no caso para incriminar xs manifestantes como “quadrilha armada”. A defesa caminha, assim, para desmentir as acusações, reduzindo as infrações de porte ilegal de arma de fogo e corrupção de menores. As audiências do caso com todos os incriminados de vandalismo continuam no decorrer dos próximos meses.

NINGUÉM FICA PARA TRÁS!

LIBERDADE A TODXS XS PRESXS POLÍTICXS!

Pelo fim dos processos e perseguições!

[Espanha] Liberdade para Francisco Javier Solar, preso anarquista nas Astúrias

Os autos que o condenam por terrorismo foram aplicados em 4 de julho passado, já que segundo o juiz, a polícia e a imprensa, que neste caso trabalham lado a lado, asseguram que estes fatos “estão vinculados à FAI/FRI, uma organização terrorista de carácter internacional ‘criada a partir da ideologia anarquista insurrecionalista’”. Continue reading

[México] Mensagem solidária aos companheiros anarquistas em greve de fome

presos-en-huelga-de-hambrePara Carlos López, Fernando Bárcenas, Mario Gonzáles e Abraham Cortés

Saúde companheirxs! Encontramo-nos novamente neste caminho de luta e vida que escolhemos, onde os aromas e desejos de solidariedade sem concessões são transportados nos ventos da liberdade, que se estende até aos esconderijos mais obscuros desta civilização pútrida.
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[Prisões italianas] Tudo o resto é aborrecido. Notas soltas sobre ação direta

1Pensei em escrever estas notas, porque me parece que ultimamente, até mesmo entre nós anarquistas, se está a falar muito pouco da ação direta (e, infelizmente, a ser praticada pouco…), privilegiando-se as tentativas de encontro com as “massas” mais ou menos indignadas. Decidi fazê-lo na Cruz Negra, porque espero que esta possa converter-se num espaço de debate entre aquelxs que consideram a ação como o centro do seu caminho de luta. Espero, sinceramente, que a Cruz Negra se converta não na reunião das más sortes carcerárias mas sim no lugar onde se pode retirar informação e aprofundar sem meias palavras – a partir de diferentes pontos de vista e sobre questões que são consideradas úteis – para dar mais contundência à luta contra a autoridade. De fato, a ação direta é algo para agir e não para pontificar mas estou convencido de que esclarecer o que cada um de nós  realmente entende quando usa essa palavra pode ajudar a aguçar armas para isso atacar.
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